quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Millenial dilema

Este é para ser mais um projeto. Um projeto que se inicia sem a prepotência de ser um projeto, no sentido de ser cumprido e de saber onde vai terminar. É sobretudo uma experiência. Uma terapia individual de um jovem geração Y, millenial, angustiado, com 28 anos, formado em engenharia, com experiência internacional, fluente em 3 línguas e que não sabe o que quer da vida. Se você está no mesmo barco (sinto que é uma arca de Noé), convido-o a ler e compartilhar sua experiência.

Ao longo da minha formação, sempre fui motivado por degraus ambiciosos. Não pela competição, mas porque chegar Lá (com maiúsculas) me atraía. Queria ser engenheiro, pesquisador da Nasa, um cientista com grandes realizações humanas, que levasse o homem ao limite tecnológico. Formei-me em engenharia mecatrônica (2014), duplo diploma em uma universidade francesa (2012), estagiei em um bom escritório de engenharia (2013), sou quase mestre e até a metade deste ano de 2016, fui sócio-fundador de uma empresa de drones. Sempre turbinado, sempre repleto de atividades, sempre sendo elogiado pela trajetória; até perceber que o meu "tesão" por tudo isso acabou. Lutei para ser alguém que não quero mais ser. Tornar-se o novo Elon Musk brasileiro não me atrai mais. Minha noção de sucesso sumiu, minha fonte de motivação secou. Tudo para dar lugar à pressão de manter o que lutei para conquistar até aqui. Aqueles que me davam apoio e elogiavam minha trajetória transformaram-se em sanguessugas, "e aí? O que você tá fazendo da vida?". Fujo do contato com amigos e familiares para não ter que responder nada.

Apesar disso, a confiança interna de que iria encontrar o novo projeto da minha vida me deu forças. Ávido frequentador de escritórios de coworking em São Paulo, suguei a excelente energia desses espaços por dois meses. Até uma nova onda de pressão aparecer: "você é um sonhador, o emprego ideal não existe". A única pessoa com quem podia contar, no caso eu mesmo, passou a apontar o dedo para mim, numa espécie de relação esquizofrênica. Dois seres batalham diariamente: o otimista e o realista, enquanto um terceiro, o eu perdido, os observa. Já tive diversas montanhas-russas emocionais na vida, mas ao menos a minha essência sempre esteve lá, bastava segui-la. O que estou vivendo agora é uma experiência completamente nova, a voz interna está muda e atordoada. De um lado, o mundo real, com suas respostas em forma de gráficos cheios de dados reais e que vendem um mundo que não quero. Do outro, o jovem sonhador, carente de argumentos e atordoado pelos 28 anos de luta que não trouxeram os resultados que se imaginava. Dessa batalha, surge essa série narrativa, onde o eu lírico é o observador perdido, a essência, a geração Y em seus anos de crise. Resolvi tornar a história pública, porque perceber que não estou sozinho tem sido um dos melhores remédios. Além disso, escrever concretiza o mundo subjetivo que estou vivendo e ajuda a entender o momento.

Passados estes dois meses, a única certeza com que trabalho é que o mundo não se importa com você. Alguns amigos abençoados, alguns familiares sim, mas a única forma de sair desse buraco é com seus próprios músculos. Então, levante e vá à luta, todos os dias.


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