quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Millenial dilema - parte 2

Algumas coisas desde a última postagem mudaram. Para melhor!
A esquizofrenia de personalidade tripla mantém-se, mas de uma forma harmônica, ao invés de conflituosa como antes. Ainda existe o idealista e o realista debatendo entre si, enquanto o observador continua atônito; mas o idealista e o realista perceberam que de nada adianta brigar. Perceberam que juntos eles têm mais força. O observador, por sua vez, acalmou-se, pois entendeu que esse cenário só foi capaz de se formar com tempo, o que ainda está acontecendo.

Deixando as metáforas um pouco de lado, a verdade é que estou mais calmo e confiante. A tranquilidade não vem mais da fé de que tudo irá melhorar, mas de algo concreto que se chama aprendizado acelerado. O problema da fé é que ela pode caminhar rapidamente para um positivismo cego. Pensar positivo é importante, mas deve ter uma base, caso contrário irá levá-lo com grande chance para a decepção, resultado da diferença entre expectativa e realidade. Acredito que o "millenial dilema" é fruto,em parte, desse tipo de atitude. A pergunta que fica então é - o que seria o aprendizado acelerado, que reergueu a confiança e a significância do momento, acalmando os ânimos e re-iluminando o caminho? Para respondê-la, o autoconhecimento teve papel indispensável no processo. Por isso, é importante já deixar claro que receita de bolo para essa jornada de resignificação não existe. Mesmo assim, espero que ela ajude outros a re-iluminar seus caminhos.

Durante dois meses intensos, busquei aprimorar minha visão sobre o que gostava, o que não gostava, o que era bom, o que não era; entre outras perguntas clichês de terapia de carreira e de entrevistas de seleção. Descobri que uma das oportunidades que considero indispensáveis em minha vida é o aprendizado. Ele deve ser intenso e em harmonia com a pessoa que quero tornar-me. Na busca de uma atividade capaz de proporcionar essa oportunidade, vi-me já mergulhado no próprio momento que busco. Cada dia que passa, conheço melhor meus valores, minhas motivações, qualidades e defeitos. Qual o ponto de estar angustiado por viver este aprendizado tão intensamente? Existe a pressão social de sucesso, a pressão financeira, as diversas dificuldades relacionadas à ausência de um rumo certo; não sejamos, novamente, positivistas cegos. Mas o aprendizado está ali, é inegável. E diante disso, a pressão social simplesmente seca e a ausência de rumo claro é tranquilizada pela presença de propósito (a aprendizagem)! Resta a pressão financeira, que, infelizmente, não tem outra solução além do dinheiro. Tenho feito um "bico" em um mercado, sendo atendente, para me ajudar ao longo desse período. O resultado tem sido a inversão de um momento angustiante por um momento, ainda não prazeroso, mas de extrema curiosidade e entrega. Espero que todos que passem por uma etapa de resignificação como essa possam também  sintonizar seu eu mais profundo com seus valores e alcançar maior autoconhecimento.

Peace and love!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Millenial dilema

Este é para ser mais um projeto. Um projeto que se inicia sem a prepotência de ser um projeto, no sentido de ser cumprido e de saber onde vai terminar. É sobretudo uma experiência. Uma terapia individual de um jovem geração Y, millenial, angustiado, com 28 anos, formado em engenharia, com experiência internacional, fluente em 3 línguas e que não sabe o que quer da vida. Se você está no mesmo barco (sinto que é uma arca de Noé), convido-o a ler e compartilhar sua experiência.

Ao longo da minha formação, sempre fui motivado por degraus ambiciosos. Não pela competição, mas porque chegar Lá (com maiúsculas) me atraía. Queria ser engenheiro, pesquisador da Nasa, um cientista com grandes realizações humanas, que levasse o homem ao limite tecnológico. Formei-me em engenharia mecatrônica (2014), duplo diploma em uma universidade francesa (2012), estagiei em um bom escritório de engenharia (2013), sou quase mestre e até a metade deste ano de 2016, fui sócio-fundador de uma empresa de drones. Sempre turbinado, sempre repleto de atividades, sempre sendo elogiado pela trajetória; até perceber que o meu "tesão" por tudo isso acabou. Lutei para ser alguém que não quero mais ser. Tornar-se o novo Elon Musk brasileiro não me atrai mais. Minha noção de sucesso sumiu, minha fonte de motivação secou. Tudo para dar lugar à pressão de manter o que lutei para conquistar até aqui. Aqueles que me davam apoio e elogiavam minha trajetória transformaram-se em sanguessugas, "e aí? O que você tá fazendo da vida?". Fujo do contato com amigos e familiares para não ter que responder nada.

Apesar disso, a confiança interna de que iria encontrar o novo projeto da minha vida me deu forças. Ávido frequentador de escritórios de coworking em São Paulo, suguei a excelente energia desses espaços por dois meses. Até uma nova onda de pressão aparecer: "você é um sonhador, o emprego ideal não existe". A única pessoa com quem podia contar, no caso eu mesmo, passou a apontar o dedo para mim, numa espécie de relação esquizofrênica. Dois seres batalham diariamente: o otimista e o realista, enquanto um terceiro, o eu perdido, os observa. Já tive diversas montanhas-russas emocionais na vida, mas ao menos a minha essência sempre esteve lá, bastava segui-la. O que estou vivendo agora é uma experiência completamente nova, a voz interna está muda e atordoada. De um lado, o mundo real, com suas respostas em forma de gráficos cheios de dados reais e que vendem um mundo que não quero. Do outro, o jovem sonhador, carente de argumentos e atordoado pelos 28 anos de luta que não trouxeram os resultados que se imaginava. Dessa batalha, surge essa série narrativa, onde o eu lírico é o observador perdido, a essência, a geração Y em seus anos de crise. Resolvi tornar a história pública, porque perceber que não estou sozinho tem sido um dos melhores remédios. Além disso, escrever concretiza o mundo subjetivo que estou vivendo e ajuda a entender o momento.

Passados estes dois meses, a única certeza com que trabalho é que o mundo não se importa com você. Alguns amigos abençoados, alguns familiares sim, mas a única forma de sair desse buraco é com seus próprios músculos. Então, levante e vá à luta, todos os dias.