quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Os olhos de Cesare Battisti

     Recentemente li uma reportagem sobre Cesare Battisti na revista Piauí. Não quero tomar aqui nenhuma posição sobre as atitudes de cada autoridade, brasileira e italiana, ou sobre o que deveria de fato ser decidido sobre sua situação legal. Quero apenas compartilhar um sentimento que enxerguei naquele homem e que tenho certeza de que é comum a todos nós.
     A reportagem começa narrando o lugar onde se deu a entrevista: na praia, em uma mesa de plástico de um quiosque à beira mar. Em seguida, o dia-a-dia do italiano é apresentado. Diferente do que chamaríamos de uma rotina de "curtição" para alguém que está em liberdade, a reportagem conta como ele passa o dia inteiro caminhando pelas areias desertas da praia carioca nos dias de céu cinzento. Joga pedras no mar e brinca com um garoto de nove anos que deu ao seu amigo mais velho o apelido de "piradinho". Quando pergutado se continua a escrever e a ler ele responde simplesmente que não, muito raramente. "Passei quatro anos fazendo isso quando estava preso. Agora quero cozinhar". Cozinhar? De preferência ao som de um blues e preparando um peixe recém pescado que ele teve o prazer de escolher a dedo em um mercado a céu aberto. Ao narrar, parece até poético, mas a simplicidade da tarefa não deixou de me martelar a cabeça. "Por que não ir a um restaurante com um blues ao vivo, como os numerosos barzinhos de jazz que temos na altura da Paulista em São Paulo?" Porque a liberdade é simples. Liberdade é poder viver com o gosto que esquecemos de saborear a cada segundo que passa. Ir a pé ao trabalho assobiando, ou poder tomar uma ducha quente num sábado de manhã após uma noite romântica com a namorada. Simples, mas idescretívelmente livre. Battisti teve que ser preso para entender o que isso significa. Nunca olhei em seus olhos, mas tenho certeza de que eles carregam essa certeza.

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