domingo, 13 de abril de 2008

Redenção

Este mundo não está abandonado ao acaso, disso podemos ter a maior certeza a cada nova descoberta da ciência. Vivemos em meio a causas e efeitos. Causas e efeitos que, para muitos, acabam por se tornar uma prisão, um destino incontornável.

Diante disso, as religiões nos trazem diversos caminhos para a conquista da liberdade, como a vida após a morte e a fuga do círculo de reencarnação e morte. Mas onde entramos nesse processo? Qual é a capacidade que temos para mudar esse destino incontornável?

Na busca pela resposta, achei muito pertinente um trecho do livro "Sidarta" de Hermann Hesse. Ele faz parte de um diálogo entre Sidarta e Buda:

"Nessa doutrina, tudo fica completamente claro. Tudo é demonstrado. Tu mostras o mundo sob a forma de uma corrente perfeita, jamais e nenhures interrompida, corrente eterna, constituída de causas e efeitos. Nunca, em parte alguma, isso se percebeu com tamanha nitidez, nem tampouco foi exposto tão irrefutavelmente. Realmente, os corações de todos os brâmanes deverão vibrar de alegria, quando seus olhos enxergarem o cosmo através de tua doutrina, esse cosmo que forma um conjunto inteiriço, sem lacunas, límpido como cristal, não dependente nem do acaso nem dos deuses. Se o mundo é bom ou mau, se a vida em seus confins é sofrimento ou prazer, essa pergunta pode permanecer sem resposta. Pode ser que aquilo tenha pouca importância. Mas a unidade do mundo, o nexo existente entre todos os acontecimentos, o fato de todas as coisas, tanto as grandes como as pequenas, estarem incluídas no mesmo decorrer, na mesma lei das causas, do devir e do morrer - tudo isso, ó Augusto, ressalta luminosamnte na tua excelsa doutrina. Mas, nessa mesma doutrina, há um único lugar em que tal unidade e lógica das coisas estejam interrompidas. Por uma minúscula lacuna penetra na unidade desse mundo um elemento estranho, novo, que antes não existiu, que não pode ser mostrado nem comprovado. Refiro-me à tua tese acerca da possibilidade de superarmos o mundo e alcançarmos a redenção. Ora, essa pequníssima lacuna, essa pobrechazinha, basta para destruir e liquidar toda a unidade e eternidade da lei cósmica."

Se o mundo é de tal forma constituído por causas e efeitos, quem somos para, por nós mesmos, por nossas próprias ações, mudarmos toda essa lei universal para, assim, "superarmos o mundo e alcançarmos a redenção"? Para mim, uma vez evidenciado esse paradoxo, resta-nos apenas duas opções: ou negamos a ordem do universo, colocando-o numa espécie de anarquismo cosmológico onde o homem, pela sua capacidade racional, pode ordená-lo; ou então baixamos nossas pequenas cabeças e, com humildade, reconhecemos que a conquista dessa liberdade cabe ao arbítrio de Outrem.

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