domingo, 30 de março de 2008

Perda do sentido da forma



Assisti a um espetáculo de dança japonesa que segue um estilo bem singular chamado "Butoh". A apresentação ilustrou muito bem o que o filósofo italiano Giovanni Reale chamou de "perda do sentido da forma" . Para compreender o que isso significa, tentarei explicar brevemente o é o Butoh: é uma tentiva de colocar o dançarino em contato com a sua origem, deixando que o corpo ganhe total liberdade sobre a mente e se responsabilize por esse retrocesso. "It is a dance that has as much to do with meditation or martial art training as it does to dance in the conventional sense. It derives its power from what the individual who dances it brings to it in a very mental as well as physical sense. It is a directing of energy to the audience from the surroundings, the environment and the audience themselves as much as from the mind in a way similar to how a pastry chef uses a paper cone to direct the icing onto a cake." Para finalizar o entendimento do Butoh, segue abaixo algumas apresentações.




http://www.youtube.com/watch?v=r4sDp_1brFg&feature=related


Fica claro que os dançarinos se reduzem a apenas corpo; a consciência e mesmo a emotividade deles estão muito distantes do palco. Para mensurar esta distância, é interessante citar a influência que um estudo sobre os movimentos que uma "galinha" realizava após ter sido decepada tem sobre a dança. Diante disso, surge a "perda do sentido da forma" que Giovanni Reale comentou em seu livro"O Saber dos Antigos - Terapia para os dias atuais". Para ele, a forma não passa de um reflexo do que o interior dos objetos reserva, ela não existe por si, não caminha por si, não tem significado se não o de refletir a verdadeira beleza. E lembra que, disso, Platão já tinha plena consciência quando escreveu que "a beleza física representa apenas o grau mais exterior e mais baixo da própria beleza. A verdadeira beleza é a interior (...) a verdadeira beleza, a divina, não está no cormpo mas na alma, e é esta que é realmente preciosa".

Mas não é só a arte que tem abandonado o sentido da forma, através do distanciamento das idéias aos objetos pela super valorização da abstração; mas também a própria visão de amor. Não que seja errado amar aquilo que é belo exteriormente; aliás, deve-se buscar essa qualidade pois ela também faz parte do que é plenamente belo, mas, justamente, quando amamos buscamos essa beleza completa, que parece ter sido esquecida. Basta assistir a uns 15 minutos de novela para se evidenciar isso.Para mim, a perda do sentido da forma na arte é apena a pontinha do iceberg do falso amar.

Maiores informações sobre o Butoh:

http://www.butoh.net/

http://www.ne.jp/asahi/butoh/itto/butoh-e.htm

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